A indústria tabagista e o câncer: um casal mais do que perigoso

O pioneirismo brasileiro em políticas de combate ao tabagismo, exemplo mundial, deu um grande passo para trás, conforme noticiado em duas reportagens na edição de terça, 27, da Folha de S.Paulo. Intitulados “Anvisa libera aditivos como extrato de café para uso em cigarros” e “Liminar suspende efeitos de veto a mentolados”, a indústria tabagista comemora. Isso justamente dois dias antes do Dia Nacional de Combate ao Fumo.

No primeiro texto, mostra-se que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicara no dia anterior uma lista de 121 substâncias cujo uso no tabaco seria autorizado por um ano, até a conclusão de uma nova avaliação. Acontece que a equipe técnica da mesma entidade já tinha dado seu parecer contrário e, portanto, aditivos como mentol e cravo (agora previamente liberados) estavam banidos. No segundo texto, a notícia é sobre uma liminar concedida pela Justiça ao Sinditabaco-DF (Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco), suspendendo os efeitos da RDC 14/2012, que prevê o banimento de produtos com sabor derivados do tabaco, como cigarros mentolados, cigarrilhas aromatizadas e fumo com sabor para narguilé.

menta

Cigarros mentolados, cigarrilhas com aroma e os narguilés com inúmeros sabores são decorrentes de estratégias para atrair fumantes, principalmente os adolescentes, que são os mais ávidos por estes produtos e, não necessariamente, se sentem atraídos por consumir o cigarro em sua forma tradicional. Em razão disso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) declara que o tabagismo é uma doença pediátrica. As companhias atuam de forma articulada, sempre com o propósito de explorar as vulnerabilidades individuais por meio de atividades voltadas para induzir crianças e adolescentes a iniciar o consumo.

Vale ressaltar que nove entre dez casos de câncer de pulmão estão diretamente relacionados ao tabagismo. Para se ter uma dimensão dentre problema, é a doença oncológica que mais mata, totalizando 1,5 milhão de mortes anuais. Dados da OMS apontam que o total de fumantes no mundo hoje ultrapassa a cifra de 1 bilhão, dos quais mais de 800 milhões concentram-se em países em desenvolvimento, entre os quais está o Brasil. Caso não sejam tomadas medidas de controle, a OMS calcula que até o fim deste século 500 milhões de pessoas morrerão em razão do consumo de tabaco. São fatores como este que estimulam a criação de datas voltadas a conscientizar a população sobre os males provocados pelo ato de fumar, casos do dia 31 de maio (em mundo o mundo) e hoje, 29 de agosto (comemorado no Brasil).

O Brasil é um dos maiores exemplos positivos no combate ao tabagismo por meio de ações antitabagistas. A primeira delas nasceu em 1988, quando o Ministério da Saúde publicou a Portaria n.º 490, que obrigava as companhias do tabaco a inserirem em todas as embalagens a frase: “O Ministério da Saúde adverte: Fumar é prejudicial à saúde”. O Brasil foi o primeiro país do mundo a proibir nas embalagens de cigarro o uso das expressões light e baixos teores, com a alegação de que poderiam levar o consumidor desavisado a ter uma falsa idéia de segurança em relação ao produto.

Mais recentemente, em 2009, foi aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (69 contra 18 votos) e sancionada pelo governo de São Paulo, a lei que bane o cigarro e derivados de tabaco em ambientes coletivos – públicos e privados – em todo o Estado. A lei, sob número 13.016, nacionalmente conhecida como lei antifumo, entrou em vigor três meses depois com a ação de 500 agentes do Procon (do Estado e municípios) e da Vigilância Sanitária que foram às ruas para cumprir a lei. As multas para descumprimento variam de R$ 782 a R$ 3 milhões. Após o pioneirismo paulista, as leis de restrição ao fumo em locais coletivos fechados rapidamente se espalharam para Cuiabá, Curitiba, Teresina, Divinópolis, Belo Horizonte, Goiânia, Aracaju, dentre outras cidades e estados brasileiros.

Se por um lado é papel da ciência e dos formadores de opinião pública (dentre eles a mídia) apontar os malefícios do cigarro, na contramão estão justamente estas grandes corporações da indústria do tabaco, que não desmentem as informações sobre o quanto o cigarro é prejudicial à saúde, mas também não admitem. O trabalho delas está concentrado em elaborar estratégias sofisticadas de divulgação para apresentar o ato de fumar como algo associado ao glamour e ao sucesso, tanto pessoal como profissional.

E a mídia neste contexto? É seu papel, primordial, difundir as informações sobre os males do cigarro e destacar os benefícios decorrentes da decisão de abandonar o tabagismo. Algo feito, de forma muito competente, pelo portal IG, por meio deste infográfico. http://saude.ig.com.br/minhasaude/como-o-cigarro-afeta-o-corpo/n1597367938343.html

Por fim, gostaria de compartilhar o vídeo “O Caminho da Fumaça”, produzido pelo A.C.Camargo Cancer Center, que mostra o caminho percorrido pela fumaça no organismo do fumante e destaca também o lado bom, que é o corpo respondendo positivamente à decisão de largar o cigarro.

Boa semana!

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