A cidade de São Paulo será palco de 17 a 19 de outubro do mais importante evento de cirurgia oncológica do país este ano. Com sede no Hotel Maksoud Plaza, acontece o XI Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, evento que abordará o papel da interdisciplinaridade no tratamento cirúrgico do câncer. Haverá a presença de mais de 100 palestrantes, sendo 18 internacionais, que abordarão as atuais fronteiras da cirurgia oncológica. Na presidência do Congresso está o cirurgião oncologista e diretor do Núcleo de Cirurgia Abdominal do A.C.Camargo Cancer Center, Felipe José Fernández Coimbra.
Em entrevista exclusiva ao blog jornalismOncologia, Felipe Coimbra fala sobre o momento atual da modalidade de cirurgia oncológica no Brasil e no mundo que, para ele, é composta por padrões bem díspares, indo desde uma cirurgia completa (com ampla limpeza de gânglios), passando por métodos minimamente invasivos por laparoscopia ou cirurgia robótica para, num terceiro momento, partir para a adoção de combinação da cirurgia com outras modalidades terapêuticas.
Neste bate-papo, Coimbra relata a visão dele como oncologista da importância de um jornalista saber planejar sua pautas ao falar sobre câncer e descreve quais são, na sua avaliação, os temas que prometem mais atrair os olhares do público no evento que começa na próxima quinta, 17.
jornalismOncologia – Quais são as atuais fronteiras da cirurgia oncológica?
Felipe Coimbra – São muitas. Num primeiro momento eu dividira estas fronteiras em dois extremos. Um deles é o da cirurgia oncológica minimamente invasiva, feita basicamente por laparoscopia ou, mais recentemente, também por cirurgia robótica, procedimentos que respeitam critérios de segurança e que, mesmo com incisões menores, trazem resultados de controle da doença similares aos obtidos por métodos convencionais, mas com menos dor no pós-operatório, além de recuperação mais rápida, dentre outros benefícios para o paciente. O outro extremo é a capacidade de um cirurgião oncológico experiente saber fazer cirurgias mais completas ao mesmo tempo em que são também mais seguras, tornando possível retirar tumores que antes eram considerados irressecáveis e trazendo novamente uma possibilidade de cura para o paciente. O fundamental é saber dosar o momento certo de apostar em um ou outro extremo. Há também outra fronteira, na minha visão, que é a do tratamento cada vez mais combinado, não isolado (não só cirurgia, radioterapia ou quimioterapia). Cabe ao oncologista saber o momento certo de associar ou não estas modalidades terapêuticas, maximizando o potencial de cada uma delas e potencializando assim os resultados.
O que precisa estar em pauta no momento de uma cirurgia para a conduta ser devidamente eficaz?
O fundamental, antes de qualquer coisa, é traçar um completo planejamento baseado no diagnóstico e estadiamento da doença, ou seja, traçar o perfil biológico de cada tumor, pré-determinando o grau de avanço que a doença poderá ter. Para cada situação existe uma melhor indicação de tratamento. Pode ser de quimioterapia isolada, de cirurgia isolada, de cirurgia mais radioterapia, de quimioterapia antes da cirurgia ou alguma outra forma de combinação, mas é fundamental ter tudo bem traçado previamente. Sobre a cirurgia em si, diria que é fundamental fazer a retirada mais ampla possível dos linfonodos ao redor do tumor, com margens de segurança muito bem estabelecidas, com realização de exames de congelação desta margem, retirada dos gânglios, dentre outros cuidados por parte do cirurgião oncológico. No câncer de estômago, por exemplo, a depender do estadiamento, o tratamento pode consistir só na cirurgia por laparoscopia ou por via aberta; na combinação de tratamentos; não haver necessidade de cirurgia ou, até mesmo, pode ser necessária a adoção da técnica de quimioterapia intraperitoneal hipertérmica.
A retirada de um tumor maligno é vista, quase sempre, como um procedimento de grande complexidade. Há localizações que, até mesmo para o mais experientes dos cirurgiões, são tidas como áreas mais complexas e desafiadoras?
Considero que a maior complexidade está localizada onde há concentração de grandes vasos invadidos ou com estruturas neurológicas importantes como o cérebro, cabeça e pescoço e coluna. É fundamental ao especialista sempre se atualizar e obter o máximo de conhecimento sobre aquilo que ele visa executar. Isso havendo, ele se torna melhor habilitado a operar, inclusive, nestas áreas de maior complexidade.
Quais critérios, na sua avaliação, são fundamentais para o jornalista saber eleger os fatos sobre câncer que merecem ser levados à sociedade?
Cabe aos bons jornalistas saber avaliar trabalhos científicos relacionados aos resultados do tratamento de câncer. É fundamental que o editor saiba – de antemão – qual é o valor de impacto de cada estudo. Avaliar, por exemplo, se o dado está apoiado em uma apuração prospectiva e randomizada. Cabe ao jornalista também, na minha avaliação, saber evitar o discurso excessivamente positivo ou negativo em relação a algo que diz que vai revolucionar o tratamento do câncer. Não estou falando de estudos falsos dentro ou fora do Brasil e sim do jornalista saber dar voz ao pesquisador sem conflito de interesse com determinada pesquisa.
E em se tratando da cirurgia propriamente dita, quais são os benefícios trazidos por um correto planejamento? Como ocorre este planejamento?
Tudo começa com o cirurgião oncológico explicando ao paciente quais são os riscos e benefícios inerentes à cirurgia. O passo seguinte é dado pelo anestesista, que tem – como uma de suas inúmeras funções – sedar o paciente da forma mais eficaz. Posteriormente, recomenda-se uma incisão para se examinar a cavidade – durante a cirurgia, acompanhado do ato de examinar todos os órgãos, aliado ao uso de métodos de imagem que possam ser necessários. A cirurgia propriamente dita deve levar em conta os critérios oncológicos, começando pela limpeza ganglionar ao redor do tumor, passando pela correta manipulação da lesão para não haver células espalhadas, assim como nunca agir perto do tumor. Isso posto, é possível adotar modelos que geram menos sangramento, evita rupturas de grandes vasos, além de evitar lesões em órgãos que não precisariam ser atingidos. Dependendo da modalidade cirúrgica, pode haver a participação, por exemplo, de uma equipe de Cirurgia Plástica Reparadora ou de Cirurgia Vascular.
O senhor preside o Congresso da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica que começa nesta quinta, 17. São mais de 100 palestrantes convidados, sendo muitos deles internacionais. Quais nomes e temas prometem trazer gerar mais repercussão?
Eu começaria destacando a Dra. Kelly Hunt, do M.D.Anderson, que falará sobre o papel da terapia combinada em câncer de mama, principalmente no que diz respeito à quimioterapia antes da cirurgia. Teremos o Dr. Marcello Deraco, da Itália, que é uma das maiorias referências do mundo em tratamento de doença com disseminação peritoneal por meio da quimioterapia hipertérmica. Poderia citar todos os demais convidados, pois todos são grandes nomes da oncologia mundial, mas – apenas para melhor ilustrar – destaco também Takesi Sano, que falará sobre sua experiência no Japão com tratamento combinado em câncer gástrico; Jean Vauthey, que reúne a maior experiência do mundo em metástases para o fígado e, por fim, Mário Leitão, do Memorial, que falará sobre os avanços do tratamento ginecológico com utilização de laparoscopia e cirurgia robótica. A programação, por sua vez, proporciona muito mais destaque e convido os leitores do jornalismOncologia a conhecê-la. Está disponível no site www.congressosbco.com.br/