Químico cria canal no youtube sobre câncer

O jovem químico de 25 anos, Wilian Augusto Cortopassi, criou em 2014 o projeto Fatos do Câncer (Cancer Facts), no qual traz por meio de animações no Youtube informações sobre a doença desde seus conceitos básicos até os mais avançados tratamentos. Natural do município de Contagem, em Minas Gerais e graduado em Química pela PUC do Rio de Janeiro, Cortopassi atualmente é doutorando na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Com o suporte do startup Mendelics, que auxilia no áudio e edição, o canal reúne seis vídeos, todos com legendas em português.

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O canal: https://www.youtube.com/channel/UCbW8Pd72IgEAhK_-yUDYD_w

“São ao todo 6 capítulos abordando desde as definições, causas até os mais modernos tratamentos. Essa era a ideia inicial. Transmitir, com uma linguagem simples e em menos de 20 minutos, conceitos importantes sobre o Câncer. Embora os vídeos também sejam de acesso a oncologistas, o público alvo é a população em geral. Então tentamos nos colocar no lugar de uma pessoa que nunca teve contato aulas mais complexas sobre o corpo humano”, explica Willian Cortopassi em entrevista concedida com exclusividade por e-mail para o blog jornalismOncologia.

Nesta conversa, o jovem cientista conta os fatos que o motivaram a criar o projeto Fatos do Câncer, como o diagnóstico de câncer de pulmão recebido por seu pai e a vontade de difundir informação em linguagem clara e simples para outros pacientes e familiares. Ele também faz uma análise crítica da qualidade da cobertura sobre câncer da mídia no Brasil e na Inglaterra.

“Na Inglaterra, vejo muitas notícias mais técnicas, sobre tratamentos e ciência. Tenho visto muitas reportagens no Brasil dizendo que um pesquisador encontrou a cura do câncer quando, na verdade, o estudo ainda está bem no começo. Por isso acho importante ter um balanço entre o emocional e o científico”, analisa Cortopassi.

Confira abaixo a entrevista na íntegra com Wilian Cortopassi: 

jornalismOncologia – Como surgiu a ideia de criar esse canal no Youtube para difundir questões relacionadas ao câncer?
Wilian Cortopassi – Queria fazer algo além do meu trabalho diário como pesquisador aqui em Oxford. Quando meu pai descobriu que tinha câncer de pulmão, ainda quando eu era adolescente, estávamos totalmente perdidos sobre o que vinha pela frente. Daí surgiu a ideia de criar um canal para ajudar pacientes com câncer e familiares a entenderem um pouco melhor sobre o que vem pela frente. Entrei em contato com a empresa brasileira Mendelics e eles resolveram me apoiar.

jornalismOncologia – Os vídeos seguem uma linguagem uniforme. De que forma ocorreu a criação desse formato.
Wilian Cortopassi – Tinha preparado alguns vídeos iniciais gravados aqui em Oxford comigo falando em frente a uma câmera. Mostrei para vários amigos e pra Mendelics. O projeto foi sendo construído e formatado com o tempo, um trabalho em equipe, principalmente com as designers da Mendelics, Ana Lopez e Marina Nunes. Conversamos por Skype e fomos experimentando, até que chegamos em um modelo de vídeo que parecia mais amigável.

jornalismOncologia – O primeiro vídeo foi postado em outubro de 2014. Como tem sido a resposta do público nesses poucos mais de seis meses?
Wilian Cortopassi – A ideia era postar vídeos semanalmente e ver a resposta dos seguidores. Mas foi um objetivo bem ousado. Antes de colocar um vídeo no ar, precisávamos da aceitação após revisão de toda a equipe envolvida. Conseguimos uma primeira divulgação no final do ano passado, com três vídeos no ar. E o feedback das pessoas foi positivo. Tínhamos conseguido algo em torno de 500 visualizações depois de um post no Facebook. Agora com o projeto completo, com os seis vídeos no ar, conseguimos outras divulgações e já contamos com aproximadamente 2000 visualizações e mais de 40 seguidores.

jornalismOncologia – Para muitos a ciência é um assunto chato e falar sobre câncer ainda é um mito para a sociedade. Quais são os desafios de unir as duas coisas em um único conteúdo e torná-lo interessante e acessível?
Wilian Cortopassi – O objetivo maior é não complicar. A ciência parece algo chato porque muitas vezes ela é passada como algo chato. Mas na prática são apenas definições diferentes daquelas a que estamos acostumados. Ciência é uma linguagem. O desafio está em trabalhar essa linguagem para torná-la algo mais acessível para todo mundo, pesquisadores, médicos ou para a população em geral. Ilustrações, textos simples e objetivos parecem ajudar um pouco nessa tradução. Eu diria também que é importante ter o engajamento da mídia, afinal, a ciência precisa chegar nas pessoas de alguma forma.

jornalismOncologia – Ao abordar temas como o que é o câncer e suas causas, a importância do entendimento do genoma, modalidades de tratamento e medicina personalizada você fala com diversos públicos, como cientistas, oncologistas e médicos não oncologistas assim como com o público-leigo. Quais critérios você leva em conta para construir o discurso dos seus vídeos?
Wilian Cortopassi – O critério é sempre o mesmo: facilitar a linguagem. Tenho trabalhado em parceria com a equipe da Mendelics para tentar explicar os conceitos de uma forma simples e direta. Embora os vídeos também sejam de acesso a oncologistas, o público alvo é a população em geral. Então tentamos nos colocar no lugar de uma pessoa que nunca teve contato aulas mais complexas sobre o corpo humano.

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Wilian Cortopassi

jornalismOncologia  – Atualmente, na Universidade de Oxford, você estuda o desenvolvimento de drogas contra o câncer. Quais diferenças você observa na área de pesquisa clínica no Reino Unido em comparação com o Brasil?Wilian Cortopassi – O Reino Unido tem tradição em colocar medicamentos no mercado. Eles têm mais experiência e duas das maiores empresas farmacêuticas do mundo estão aqui pertinho de Oxford. Por isso escolhi a Inglaterra, para aprender um pouco com a experiência nessa arte de colocar medicamentos na prateleira. O Brasil caminha muito bem, tem grupos muito bem conceituados que desenvolvem uma pesquisa magnífica. Mas ainda tem muito chão pela frente. Algo que tenho observado é que alguns reagentes que usamos no laboratório e máquinas saem mais caros para os brasileiros, pois precisamos importar. Isso atrapalha um pouco. A burocracia para começar parcerias entre empresas e universidades me parece ser um outro problema mais comum no Brasil do que no Reino Unido. Mas é um processo em construção e acredito que em breve também teremos nossos medicamentos verde-amarelo.

jornalismOncologia – Em 2010, enquanto bolsista pela Fundação Estudar e com menos de 20 anos, o seu foco era a Doença de Chagas? Hoje, com 25 anos, sua atuação é com o desenvolvimento de novas drogas para combater tumores. O diagnóstico de câncer de pulmão em seu pai – história que você revelou ao receber o Prêmio Jovens Inspiradores, em 2013 – foi a motivação para esta mudança ou a Oncologia já havia despertado o seu interesse antes?
Willian Cortopassi – O interesse para estudar medicina surgiu junto com o diagnóstico de câncer de pulmão do meu pai. Queria fazer algo que ajudaria meu pai. No ensino médio, aos 16, tive a oportunidade de fazer um projeto em colaboração com a UFMG e a FIOCRUZ. A oportunidade era em malária. Vi ali uma chance de começar um pouco a me envolver com algo em que trabalho até hoje: Química Medicinal. Até hoje continuo as parcerias com a FIOCRUZ, testando moléculas que foram inicialmente desenvolvidas contra o câncer também para malária.

jornalismOncologia – Promovido pela Abril e Fundação Estudar, o Prêmio Jovens Inspiradores, nas palavras dos organizadores, busca jovens promissores que não só querem liderar o país como também transformar o mundo onde vivem. Como você pretende manter essa missão ao longo de sua carreira?
Willian Cortopassi – Eu tenho um sonho grande de achar a cura do câncer. Parece ousado e a maioria dos pesquisadores diria ser impossível, principalmente porque o termo câncer é muito abrangente e um tipo pode não ter quase nada a ver com outro. Mas a gente precisa sonhar e lutar por isso. Essa é a minha luta. Tento a cada dia adicionar qualquer pontinho em termos de novas soluções para o câncer.

jornalismOncologia – Na condição de jovem cientista que já publicou artigos científicos e também difunde conhecimento sobre câncer inclusive para o público não especializado como você avalia a qualidade do jornalismo nas mídias britânica e brasileira e seus principais erros e acertos ao abordar temas voltados à Oncologia?
Wilian Cortopassi – Na minha opinião, nós brasileiros somos mais sentimentais e o que tenho percebido nas mídias brasileiras é que o assunto compartilhado tende a ser mais de histórias de superação. Na Inglaterra, vejo muitas notícias mais técnicas, sobre tratamentos e ciência. Não acho que tenha um certo e errado. Um grande problema é que tenho visto muitas reportagens no Brasil dizendo que um pesquisador encontrou a cura do câncer quando, na verdade, o estudo ainda está bem no começo. Por isso acho importante ter um balanço entre o emocional e o científico.

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