Nos dias 25 e 26 de setembro a cidade de São Paulo receberá a segunda edição do Congresso Brasileiro Todos Juntos Contra o Câncer. A iniciativa é encabeçada pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale) e tem o objetivo de discutir a implementação da Política Nacional do Câncer. A programação e os debates serão divididos em promoção da saúde, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos.

Em entrevista exclusiva para o jornalismOncologia, a diretora institucional da Abrale, Carolina Cohen, faz uma análise do cenário atual da Oncologia brasileira, abordando a dificuldade de acesso da população ao diagnóstico precoce e tratamento personalizado, importância de se ter temas como cuidados paliativos na agenda jornalística e o papel do movimento Todos Juntos contra o Câncer e contribuir coma redução da incidência e mortalidade por meio da difusão de informações sobre os principais fatores de risco e como preveni-los, além de como o movmento tem atuado junto ao Ministério da Saúde para que políticas públicas ampliem as estratégias de prevenção e de controle dos fatores de risco das doenças crônicas não transmissíveis.
jornalismOncologia – O site oficial do Movimento Todos Juntos contra o Câncer destaca que a missão é influenciar as políticas de saúde na área de oncologia e acelerar a promoção da saúde, a prevenção, o acesso ao tratamento e cuidados paliativos às pessoas com câncer no Brasil. O quanto foi possível caminhar a partir da realização do primeiro congresso em 2014 e qual é a expectativa para esta segunda edição em setembro?
Carolina Cohen – Tivemos importantes avanços e a prova disso é a Declaração para Melhoria da Atenção ao Câncer no Brasil, que contém todas as principais necessidades do tratamento oncológico no país. Com certeza não foi fácil alinhar as vozes das 51 entidades de apoio ao paciente participantes deste Movimento, mas conseguimos e este importante documento mostra tudo o que queremos trabalhar nos próximos anos. Nossa expectativa para a segunda edição do Congresso é definir, dentro do que está nesta Declaração, quais são os temas emergenciais, para que já possamos trabalha-los dentro de um ou dois anos.
jornalismOncologia – O que motivou a Abrale a extrapolar as questões relacionadas aos linfomas e leucemias e se voltar para as questões de Oncologia como um todo?
Carolina Cohen – A Abrale tem uma atuação muito forte em políticas públicas e começamos a perceber que nossas demandas eram muito parecidas com as demandas das outras entidades, como a questão do financiamento da saúde, tratamento, acesso a medicamentos e o diagnóstico precoce. O processo é o mesmo para se alcançar todos estes pontos, independente do tipo do câncer. Ainda assim, cada associação brigava de forma individual pelas melhorias e isso fazia com que não tivéssemos tanta força. Percebemos que, juntas, teríamos muito mais força neste propósito em comum, que é o bem-estar do paciente oncológico, e vimos a oportunidades para iniciarmos este trabalho quando criamos o Todos Juntos Contra o Câncer.
jornalismOncologia – O movimento reúne hoje mais de 50 entidades e o apoio de celebridades como Reynaldo Gianecchini, Tony Ramos, Caio Castro, dentre outros. Surpreendeu esse grande engajamento logo nos dois primeiros anos do movimento?
Carolina Cohen – Não surpreendeu, porque o Movimento é também projeto da Abrale, uma associação que existe a mais de 10 anos. Temos credibilidade e relevância no cenário, então os artistas confiam em nossa marca, além, é claro, de entenderem a importância deste Movimento. Por isso toparam participar prontamente.
jornalismOncologia – Qual é o objetivo do movimento com a declaração para melhoria da atenção para o câncer no Brasil? Quantas assinaturas já foram colhidas e qual é a meta?
Carolina Cohen – Já foram colhidas mais de 18 mil assinaturas e este é um número muito importante. Nosso objetivo é conseguirmos colocar em prática o que foi listado na Declaração e vermos os pacientes de todo o país tendo acesso a um tratamento digno e de qualidade. Agora, todos devem lutar por este mesmo objetivo.
jornalismOncologia – A edição deste ano do Congresso está dividida em promoção, diagnóstico, tratamento e cuidados paliativos. Sobre o primeiro pilar, quais, você observa, são os principais gargalos na saúde primária que retardam o acesso do paciente ao centro especializado em câncer?
Carolina Cohen – Para reduzir o número de casos e de mortes é fundamental lidar com seus principais fatores de risco: tabagismo, consumo nocivo de álcool, alimentação não saudável e sedentarismo. É essencial reduzirmos a incidência e mortalidade por câncer, além de implementarmos o Plano de Ações Estratégicas, do Ministério da Saúde, e políticas públicas que complementem este plano, para a prevenção e controle dos fatores de risco das doenças crônicas não transmissíveis. Dentre nossas propostas estão realizar campanhas nacionais e regionais de conscientização para adoção de hábitos de vida saudáveis, verificar semestralmente, junto ao Ministério da Saúde, o andamento das medidas propostas no Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil 2011-2022 e Criar e disponibilizar um painel online e relatório com o andamento de cada uma das ações do Plano de Ações Estratégicas.
jornalismOncologia – De que forma as políticas de promoção da saúde podem reduzir os principais fatores de risco relacionados com o câncer?
Carolina Cohen – Além do que já foi citado na questão anterior, acredito que a educação também possa ser fundamental para que estes fatores de riscos sejam ensinados para nossa população.
jornalismOncologia – Uma pauta fundamental em Oncologia é o diagnóstico precoce de câncer. Quais são os gargalos relacionados à mamografia no Brasil e o que o movimento propõe de mudanças?
Carolina Cohen – Temos uma grande questão que é a falta de estrutura e conhecimento. Nas unidades básicas de saúde, por exemplo, os profissionais de saúde nem sempre são capacitados para o diagnóstico, pois os sintomas do câncer são comuns a outras doenças também. Conseguir uma vaga também é muito complicado. Então muito mais específico que apenas o câncer de mama, queremos capacitar os profissionais para o diagnóstico no geral e garantir vagas e exames para que o paciente consiga ter o diagnóstico o quanto antes.
jornalismOncologia – Qual é a sua visão diante de temas como os exames de rastreamento para câncer colorretal (sangue oculto nas fezes e colonoscopia), próstata (PSA e exame de toque), dentre outros, pulmão (exames de imagem para grupos de risco), dentre outros, considerando o custo-benefício dos exames e evidências de redução de taxas de mortalidade?
Carolina Cohen – O Brasil corre o risco de continuar enfrentando um aumento substancial no número de mortes por câncer, principalmente se não houver melhoria no diagnóstico precoce e preciso da doença, como por meio dos exames moleculares. Infelizmente, precisamos melhorar muito o acesso a exames e tratamentos. Nesta Declaração, pontuamos a importância de se garantir o tratamento quimioterápico no SUS e no sistema suplementar com qualidade e em tempo oportuno, a tomada de decisão compartilhada entre médicos e pacientes e a revisão anual dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT).
jornalismOncologia – O tratamento oncológico, com as evidências científicas relacionadas às terapias-alvo e mais, recentemente, às imunoterapias, resultam no encarecimento do tratamento oncológico e, consequentemente, a não cobertura de muitas destas drogas pelos convênios. De que forma o movimento atua para que essas novas terapias sejam acessíveis aos pacientes tanto via planos de saúde privados quanto pelo SUS?
Carolina Cohen – Essas terapias realmente ainda são muito novas no Brasil e no mundo. O que procuramos pesquisar e provar é que, uma terapia personalizada, pode ser muito mais eficaz para o paciente e para o financiamento da saúde também.
jornalismOncologia – Você acredita que cuidados paliativos é um tema ainda muito associado com a morte, inclusive por parte da mídia especializada? Há um entendimento equivocado por parte da mídia e da sociedade?
Carolina Cohen – Sim. O que queremos mudar é que estes cuidados sejam empregados logo no início do tratamento. Temos falado muito sobre dor oncológica e pensamos que o paciente tem o direito de ter acesso a um tratamento mais humanizado desde o primeiro momento, o que irá proporcionar muito mais qualidade de vida para ele.
jornalismOncologia – Quais são hoje, na sua visão, os temas sobre Oncologia mais negligenciados pela cobertura da mídia brasileira?
Carolina Cohen – São muitos os temas importantes e percebemos que só se temos artistas ou algo polêmico é que conseguimos falar sobre a Oncologia nos veículos de comunicação. A mídia não dá o devido espaço para a saúde e isso acaba por ajudar a negligência que encontramos para a assistência e tratamento do câncer no País. O apoio dos veículos de comunicações é fundamental para a melhoria que esperamos e para conscientizar a população a respeito da importância do diagnóstico precoce da doença.
jornalismOncologia – Qual é o legado que esta segunda edição do Todos Juntos Contra o Câncer visa deixar?
Carolina Cohen – As melhorias para o câncer é o legado que o Movimento e o Congresso vai deixar.