Estamos no mês de conscientização mundial sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, o Outubro Rosa (Pink October). O câncer de mama é o mais comum – com 57 mil novos casos previstos para 2015 – e o segundo tumor que mais mata mulheres no país. A boa notícia é que com diagnóstico precoce as chances de sucesso no tratamento superam os 90% e, desta forma, a alta mortalidade é reduzida.
O desafio do Outubro Rosa, portanto, é enaltecer aspectos relacionados com a prevenção primária, que se refere às ações que evitam que o câncer ocorra e incluem as modificações de fatores relacionados ao estilo de vida e a prevenção secundária, que consiste nas ações que visam a detecção e o tratamento de um câncer ainda assintomático, por meio do rastreamento em pessoas aparentemente sadias, usando algum método diagnóstico que, no caso do câncer de mama, é a mamografia.
A maioria das campanhas institucionais e publicitárias atuais do Outubro Rosa no Brasil não menciona o papel da mamografia. Optou-se por reforçar o autoexame. Aí está um equívoco técnico, pois as evidências científicas apontam que a mortalidade por câncer de mama não é reduzida com esta medida preventiva. Diferente do que ocorre com a mamografia, que – ao ser adotada como método de rastreamento populacional – diminui de fato as taxas de mortalidade, pois é um exame capaz de detectar lesões ainda não palpáveis.
Então não é válido a mulher fazer o autoexame? É válido sim, explica o cirurgião oncologista e diretor de Mastologia do A.C.Camargo, José Luiz Bevilacqua. Mas é válido, acrescenta ele, como uma forma da mulher conhecer melhor o próprio corpo, não representando, por sua vez, uma forma eficaz de identificar um câncer de mama. Isso porque um tumor mamário, para ser detectável em um autoexame, precisa ter cerca de 2cm de tamanho, o que só ocorre quando já não está em estágio inicial. Já a mamografia permite detectar lesões não-palpáveis com menos de meio centímetro e carcinomas in situ (tumor em estágio inicial que não invadiu e nem se disseminou além do seu ponto de origem). E o tamanho do nódulo tem impacto decisivo no prognóstico.
Por mais que estejam destacando apenas o autoexame das mamas, não podemos tirar o mérito de campanhas alusivas ao Outubro Rosa como a iniciativa da Editora Abril de dedicar as capas da edição deste mês das suas principais publicações voltadas ao público feminino: as revistas Cláudia, Boa Forma, Elle e Estilo abordam o tema na capa por meio das atrizes Juliana Paes, Taís Araújo, Fernanda Souza e Paolla Oliveira e da modelo Aline Weber. Mas, cabe a reflexão de que é necessário pensar em outras estratégias para chamar a atenção e informar a sociedade sobre o combate ao câncer de mama de forma mais eficaz, reforçando a necessidade da adesão ao rastreamento por mamografia e, ao mesmo tempo, pressionar os gestores de saúde pública à garantir esse acesso às mulheres em todo o território brasileiro.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia é que as mulheres iniciem a mamografia a partir dos 40 anos, com periodicidade anual, até os 69 anos. Para quem tem casos de câncer de mama na família, a idade deverá ser antecipada e deve-se manter um acompanhamento clínico especializado. Homens também podem ter câncer de mama, mas a realização da mamografia é recomendada apenas em caso de suspeita.
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