A voz da mídia sobre HPV e câncer oral

Um estudo publicado na última semana no BMJ Open por pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College London, conclui que os jornais britânicos não souberam aproveitar eficazmente a oportunidade do anúncio feito pelo ator Michael Douglas (que associou o seu diagnóstico de câncer de garganta com o vírus HPV) para educar o público sobre o tema e influenciar comportamentos saudáveis.

O estudo, liderado pela pesquisadora Rachael Dodd, aponta que o papel do HPV no desenvolvimento de câncer oral tem sido reportado pela mídia nos últimos anos, mas pouco se sabe sobre o conteúdo destes artigos, justificando a abordagem escolhida para análise. O paper destaca que este é o primeiro estudo a avaliar a cobertura de jornais impressos sobre a relação entre HPV e incidência de câncer oral.

Embora o câncer oral tenha como principais fatores de risco o tabagismo e o etilismo, é crescente a associação da doença com a contaminação pelo papilomavírus humano (HPV), estimando-se que 25% dos mais de 85 mil casos de câncer de garganta diagnosticados no mundo – segundo o Globocan 2008 – são associados ao HPV positivo. Portanto, é fundamental a mídia abordar os riscos da transmissão pelo vírus HPV e discutir sua ligação com o câncer oral, além de difundir a importância da prática de sexo seguro e de campanhas de vacinação de meninos.

Na metodologia adotada, os pesquisadores analisaram com qual frequência a ligação entre HPV e câncer oral é reportada em jornais impressos e online do Reino Unido e qual é a qualidade deste conteúdo. Por meio da base de dados NexisUK, foram identificados 854 artigos, sendo que 112 foram elegíveis para análise. Foram excluídas as reportagens que eram réplicas de outras matérias e também os textos que, embora mencionassem a ligação do HPV com câncer oral, não faziam deste o assunto mais importante.

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Reprodução de imagem de matéria da ABC News sobre repercussão de Michael Douglas no jornal The Guardian, em 2013

Em um recorte retrospectivo referente aos anos de 2001 a 2014, o pico de reportagens deu-se em junho de 2013, época na qual o ator Michael Douglas revelou acreditar que em razão da prática de sexo oral ele foi contaminado pelo vírus HPV e esta teria sido, na opinião dele, a causa de seu diagnóstico de câncer de garganta. Este tema esteve presente em 45% das reportagens analisadas.

Nos documentos avaliados, 54% deles abordaram a incidência de câncer oral, número um pouco inferior aos 56% de textos que trouxeram informações sobre o vírus HPV como causa de câncer de colo do útero. Um fator determinante da repercussão em torno do anúncio feito por Michael Douglas foi a associação do sexo oral como sendo um dos fatores de risco para câncer oral (referência feita em 74% das reportagens).

Por sua vez, muitos assuntos poderiam ter sido melhor explorados. Apenas três entre 10 matérias falaram sobre sintomas de câncer oral e importância do diagnóstico precoce (no Brasil, por exemplo, 75% dos diagnósticos ocorrem em fase avançada da doença, muito em razão da não atenção aos sintomas iniciais) e somente 36% das reportagens mencionaram o papel da vacinação de meninos contra o vírus HPV. Os veículos com o maior número de reportagens entre os documentos inclusos na análise foram The Times (16 matérias), MailOnline (10), The Guardian (8) e The Independent (9).

Referência bibliográfica

Dodd RH, Marlow LA, Forster AS, Waller J. Print and online newspaper coverage of the link between HPV and oral cancer in the UK: a mixed-methods study. BMJ Open. 2016 Feb 26;6(2):e008740. doi: 10.1136/bmjopen-2015-008740.

 

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