O Outubro Rosa, mês de conscientização mundial sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama, foi um dos assuntos mais relevantes da cobertura da mídia nacional ao longo da semana. Mais uma vez — assim como analisado por este blog no ano passado — o centro das discussões foi a relevância da mamografia em comparação ao autoexame.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda a realização de mamografia como estratégia de rastreamento para todas as mulheres a partir dos 50 anos, com repetição em até dois anos. Por sua vez, a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a realização do exame a partir dos 40 anos e com repetição anual. O INCA argumenta que a mamografia aos 40 anos não seria eficaz em reduzir mortalidade e não seria custo-efetivo. Já a SBM ressalta que o exame, sendo iniciado uma década antes do que é coberto pelo SUS, resulta em diagnóstico mais precoce, maior taxa de cura, e – consequentemente — em queda de mortalidade. Em se tratando de grupos de risco para desenvolvimento da doença, o rastreamento é antecipado.
Em meio à essa discussão, o Estado de S. Paulo, em reportagem assinada pela jornalista Fabiana Cambrícoli, publicou no dia 3 de outubro um levantamento do A.C.Camargo Cancer Center junto a 4.527 pacientes diagnosticadas entre 2000 e 2011 no qual a instituição paulista mostra que 4 entre 10 mulheres descobriram o tumor antes dos 50 anos (sendo 11,4% até os 39 anos e outras 28,7%, entre os 40 e os 49 anos).
De acordo com a cirurgiã oncologista e diretora de Mastologia do A.C.Camargo, ouvida pela reportagem, os dados do A.C.Camargo não refletem toda a realidade brasileira, mas são uma constatação de que vale a pena investir na mamografia mais cedo. A argumentação da especialista é evidenciada pelos números de sobrevida em cinco anos: o estudo mostra que do total de mulheres que descobriram a doença no estágio 1, 96,1% estavam vivas após cinco anos. No grau 2, eram 89,2%. No estágio 3, o índice foi de 71,6%, número que caiu para 30,3% no estágio 4, o mais avançado. O assunto também foi tema de reportagem do telejornal Bom Dia Brasil, da TV Globo.
Asssista: Bom Dia Brasil – 4 entre 10 casos antes do 50 anos
Após essa repercussão, o INCA divulgou um levantamento com pacientes do Instituto no qual afirma-se que são as próprias mulheres, por meio do autoexame, as responsáveis por identificar os sinais e sintomas do câncer de mama, inclusive em estágio ainda inicial ou intermediário. A doença – afirma a pesquisa – foi percebida pela primeira vez em 66,2% dos casos pelas próprias pacientes ao notarem alguma alteração na mama, enquanto que o percentual de mulheres que identificou a doença por meio da mamografia ou de outro exame de imagem foi de apenas 30,1%.
Assista: Jornal Hoje – levantamento do INCA
Os dados do INCA foram prontamente rebatidos pela SBM por meio de nota oficial, no qual a entidade afirma que os números se devem ao baixo índice de acessibilidade à mamografia pelo SUS e que o Estado não pode repassar à mulher brasileira o ônus de sua inoperância na realização de mamografias.
O que é válido destacar é que embora seja importante a mulher conhecer o próprio corpo por meio do autoexame, essa prática não é tão eficaz quanto a mamografia. Isso porque um tumor na mama, para ser percebido manualmente, precisa ter cerca de 2cm de tamanho. Já a mamografia permite detectar lesões ainda não-palpáveis e os chamados carcinomas in situ (a fase mais inicial do câncer de mama). O principal exame para o diagnóstico precoce, portanto, é a mamografia, pois é um exame que propicia detectar lesões ainda não palpáveis.
O câncer de mama, de acordo com o Globocan 2012, é o mais comum entre as mulheres no mundo, com cerca de 1,6 milhão de novos casos por ano, representando 25% de todos os cânceres. É a quinta principal causa de mortalidade por câncer no mundo (522 mil mortes/ano). No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), são estimados 57.960 novos casos da doença em 2016.