Consumir cigarro, álcool e bebidas em altas temperaturas é uma combinação que potencializa o risco de câncer de esôfago. A observação é de um estudo prospectivo de coorte (conjunto de pessoas avaliadas em um mesmo período), que analisou as amostras armazenadas em banco de tumores de 456 mil pessoas de 30 a 79 anos residentes em dez diferentes áreas da China.
Para comparar o consumo de chá e demais bebidas quentes com os fatores de risco mais ligados aos tumores esofágicos, os pesquisadores consideram como sendo consumo excessivo de álcool – convertendo para as medidas brasileiras – a dosagem de 355 ml de cerveja por dia ou 147 ml de destilados por dia. O consumo de tabaco considerado excessivo foi um ou mais cigarros por dia.
Com essa metodologia, o estudo publicado em 6 de fevereiro no Annals of Internal Medicine, trouxe uma evidência robusta de que o consumo de chá e outras bebidas quentes aumenta o risco de câncer de esôfago quando combinado com o consumo excessivo de álcool ou tabaco. Por sua vez, as bebidas quentes não oferecem um risco acentuado em não fumantes ou não etilistas.
Esse não foi o primeiro estudo a investigar a associação entre câncer de esôfago e consumo de bebidas quentes. Um trabalho de revisão, publicado em 2015 na revista científica The Lancet Oncology por pesquisadores da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC, na sigla em inglês) – braço da Organização Mundial de Saúde em assuntos voltados à Oncologia, já havia confirmado essa teoria.
De acordo com os autores, o grande perigo está no consumo de chás, incluindo infusão de folhas, acima de 158 graus Fahrenheit (70 graus Celsius), hábito comum na China, Irã, Turquia e regiões da América do Sul, onde há, principalmente no Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai, grande consumo de chimarrão.
O consumo de bebidas em altas temperaturas resulta em inflamações agudas na parede interna do esôfago e, quando esse consumo é frequente, as inflamações têm o potencial de se tornar crônicas, resultando em danos celulares que promovem a formação do carcinoma epidermóide, o tipo mais comum de câncer de esôfago.
O câncer de esôfago é o sexto câncer mais comum em todo o mundo, com mais de 400 mil novos casos anuais – dados do levantamento Globocan 2012, do IARC. De acordo com a entidade, cerca de 80% dos casos ocorrem em regiões menos desenvolvidas, sendo que as taxas de câncer esofágico nos homens são mais do que o dobro das registradas nas mulheres.
Em ambos os sexos, há mais de 20 vezes de diferença entre duas regiões diferentes do mundo, com taxas variando de 0,8 caso para cada 100 homens na África Ocidental para 17 casos para cada 100 habitantes na Ásia Oriental. No Brasil, a estimativa de novos casos de câncer para 2018 e 2019 recentemente divulgada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), mostra que há discrepância da prevalência de câncer de esôfago por região.
Se por um lado há Estados como Acre, Roraima e Maranhão com registro de menos de 3 casos de câncer de esôfago para cada 100 mil habitantes, a região Sul registra 13,1 casos no Paraná, 13,9 casos em Santa Catarina e 16,2 casos no Rio Grande do Sul para cada 100 mil habitantes, uma prevalência muito próxima das maiores taxas registradas na Ásia Oriental.
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